quinta-feira, 15 de novembro de 2012

Tudo o que eu sempre quis


Tudo o que eu sempre quis foi viver pra sempre. E nada de Pedra Filosofal, elixir especial ou qualquer coisa do tipo. Confesso que já cheguei quando criança, a acreditar que um dia eu viraria uma vampira após ser mordida por um morcego. Confesso, não ligo se é tolice ou não, continuo desejando que isso fosse possível de acontecer.
Porém, mais do que qualquer outra coisa, eu desejo viver pra sempre na mente das pessoas. E isso não bastará fazendo aqueles que tenho por perto pessoas felizes e especiais embora tenho que confessar que me agrada muito fazer feliz quem eu amo.
Mas infelizmente ou não, não sei, eles também morrerão e junto com eles, toda e qualquer memória que possam ter de mim e memórias não são transferíveis. Tornando isso, portanto, impossível, inviável.
Tudo o que eu sempre quis foi viver pra sempre. Oh sim. Queria eu poder escolher assim como Aquiles pôde escolher um dia. Se viver até a velhice e formar uma bela família feliz ou se viver pra sempre, ficar pra história, permanecer na mente dos homens.
Não há duvidas pra mim qual seria a minha escolha. Não me entendam errado, parece ser demasiado bom formar uma família e viver feliz, mas eu nunca quis morrer velha. Nunca me imaginei sequer constituindo nenhuma família.
Eu tenho a alma de artista. Artistas são exagerados, dramáticos, aventureiros, nômades por natureza. Não há como se prender ao que todos os demais se prendem. Se fosse assim, seriamos normais, e não o somos.
Oh como seria esplêndido que geração após geração continuasse a ler tudo àquilo que escrevi e admirassem, reconhecessem a sabedoria e a experiência por trás de minhas palavras. Que mesmo que não soubessem como meu rosto terá sido um dia, reconhecessem meu nome ao ouvi-lo. Que soubessem que fui uma grande escritora de minha época.
Que geração após geração ainda desfrute os prazeres e nuances ao ler um romance meu. Que chorem junto com as dores e perdas dos personagens, que chorem de alegria, que se apaixonem com os apaixonados, odeiem e amaldiçoem aqueles que assim o merecerem. Que se joguem e se entreguem a minha literatura. Que ela cause todos os sentimentos mais profundos. Que estudantes aprendam e tentem desvendar as minhas intenções. Que me xinguem dizendo que eu não tinha mais o que fazer senão escrever!
Outros, mais perceptivos, os pequenos jovens de mentes brilhantes, que vão um pouco mais a fundo se perguntando que tipo de vida eu teria levado. Que tipo de vida me faria escrever tão belo romance ou o que me levaria a descrever as mais profundas maluquices humanas.
Ah sim, reconhecimento. Que coisa melhor pra um artista? Não quero dinheiro. Se eu ganhar, por favor, lógico que aceito de bom grado afinal preciso viver, comer, como qualquer outro ser humano, mas jamais será a minha prioridade.
O dinheiro jamais será a minha chama pra produzir minha literatura, jamais será o motivo pra me inspirar a escrever. Prazos, prazos e mais prazos em nada me atraem e muito menos a produção em escala industrial somente pelo lucro.
Não.
Desejo certamente produzir tantos livros os quais eu possa escrever, mas todos que sejam escritos com tudo aquilo que de melhor eu posso dar. Que eu possa sentir todas as emoções de meus personagens e visualizá-los como pessoas vivas que sinto que são. Oh sim. Que eu possa transmitir ao meu leitor todos os dramas, alegrias ou qualquer outro sentimento dos meus personagens.
Que a Deusa me permita escrever o que de melhor eu posso e que não me permita jamais escrever personagens vazios carentes de alma, de sentimentos, de reflexões, incapazes de despertar qualquer sentimento em alguém.
Eu preferiria não escrever se assim o fosse. Preferiria que minha inspiração fosse tirada pra sempre e que eu jamais voltasse a escrever.
Tudo o que eu sempre quis foi viver pra sempre na mente daqueles que amam a literatura. Passando de geração a geração.
Tudo o que eu sempre quis, foi retribuir o muito que a literatura me deu.

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